quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cá entre nós

Cá entre nós
                Amado Jorge, se ele (Brasil) nasceu assim e cresceu assim, penso que permanecerá sempre assim. Assim como? Com uma estrutura fundiária concentrada e nas mãos de uma minoria apoiada pelo poder público e pelas leis. Desde 1850 com a Lei das Terras assistimos aos absurdos em torno da política agrária. Para nossa desagradável surpresa em pleno século XXI as medidas provisórias 422 (Lei 11.763 – 01/08/2006) e a 458 (Lei 11.952 – 25/06/2008) foram aprovadas, pasme, durante a vigência de um partido até então contrário à concentração de terras, materializando assim a legalização do ilegal. O “cativeiro” proferido por nosso amigo Zé de Souza Martins, portanto, é uma realidade dura e perversa ainda hoje.
                Dois aspectos dessa discussão não são, de certa forma, novidade para ninguém, mas gostaria de reforçar. Primeiro não existe interesse nacional efetivo pela Reforma Agrária, segundo, não acredito que essa luta esteja agonizando ou mesmo recebendo a extrema-unção, como afirmam alguns. Ela morreu! E em sua lápide repousa o seguinte epitáfio: “Aqui está sepultada uma luta que já nasceu morta e viveu Zumbi em tantos Palmares”.
Sua morte, reafirmo, foi declarada e/ou atestada contraditoriamente nos anos de maior esperança, quando os “companheiros” chegaram lá. Mas acho que eles esqueceram ou não sabiam a etimologia da palavra “companheiros” - aqueles que dividem ou repartem o pão.  Por falar em esperança, até quando seremos o país dela? Os números são frios e duros, deixando cair por terra as perspectivas daqueles que lutavam/torciam por uma política justa no campo. O Censo Agrário é revelador, apenas 2,36 % do total das terras são ocupadas por pequenas propriedades, enquanto os latifúndios ocupam 44,42 % delas. Quando Chico falou de Geni, a maldita, talvez não estivesse imaginando que em pouco tempo o maldito GINI (índice que serve para medir a situação e estrutura econômica) atiraria pedra na equidade fundiária. Se mantendo praticamente inalterado ao longo de 40 anos, pontuando tal como naqueles “tempos de cálice”, com 0,854 pontos quando o máximo é 1,0 ponto.
                Os versos de outro estimado Poeta representam bem os movimentos sociais dos camponeses, lutando, mais de que nunca, por uma ideologia para viver. Mas qual ideologia seguir? O modelo de Reforma Agrária atual é totalmente inviável, pois além de não garantir o acesso, não garante a permanência do trabalhador no campo e engana com números que não condizem com a realidade.
O professor Ariovaldo Umbelino (considerado o maior especialista de políticas agrárias do país) em diversos veículos da imprensa quando entrevistado refutou os dados apresentados pelo governo Lula, afirmando que o governo em oito anos assentou apenas 154 mil famílias, quando havia prometido assentar 1 milhão, para ele o governo petista inaugurou a CONTRARREFORMA AGRÁRIA. O professor faz outra afirmação contundente, ao colocar os movimentos com coadjuvantes em uma luta na qual sempre foram protagonistas, substituídos pelos posseiros (entenda grileiros) beneficiados diretamente com as leis citadas anteriormente.
A violência é a marca mais dolorosa, e grande entrave de toda caminhada em busca da Reforma Agrária. Os números aumentam numa velocidade espantosa revelando que em alguns períodos pós ditadura as mortes cresceram ao invés de regredirem (só entre 2000 e 2010 foram mais de 400 mortos). Segundo a Comissão Pastoral da Terra o número de mortos em conflito cresceu no ano passado (2010) em 30%. Os números dos conflitos em 2010 chegaram a 1.186 no Brasil, o Nordeste ficando em primeiro lugar com 440.
Antes que o ilustre Vandré diga que não falei das flores, deixo alguns nomes importantes dessa luta, João Pedro Teixeira, Chico Mendes, Irmã Dorothy, Maria Margarida Alves, e tantas outras figuras que preferiram “morrer na luta do que de fome”. Elis tinha razão, dói muito ao percebermos o quanto somos os mesmos, e seremos sempre assim. Não é Jorge?



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